O que é necessário para ser um psicoterapeuta eficaz?

O que as pesquisas em psicoterapia têm indicado sobre o que é importante para ser um bom psicoterapeuta?

Psicoterapia

A psicoterapia é um dispositivo com mais de 100 anos de idade. Suas origens remontam a Freud, criador da chamada cura pela fala. Em linhas gerais, podemos dizer que a psicoterapia ajuda a pessoa a modificar certos aspectos de sua vida, sejam eles patológicos ou não, que estejam lhe trazendo sofrimento e envolvam fatores psicológicos. É importante considerar também que todo problema trazido pela pessoa tem alguma funcionalidade em sua vida, e a psicoterapia é justamente um campo de análise e investigação pessoal para essas questões. Nesse sentido, a função do psicólogo e psicoterapeuta é promover uma compreensão sobre o problema apresentado pelo cliente através de uma teoria e de conhecimentos psicológicos para ajudá-lo a desenvolver comportamentos adaptativos congruentes com os seus valores pessoais e o que faz mais sentido para si (Wampold, 2019).

Desde a década de 1950, a psicoterapia teve uma grande expansão com o desenvolvimento de um vasto campo de pesquisas científicas nessa área. Hoje sabemos que a eficácia da psicoterapia está na ordem de 80% e que ela funciona para praticamente diversos tipos de problemas psicológicos. A psicoterapia é eficaz em promover coping (novas maneiras de lidar com problemas e situações da vida), redução de sintomas (principalmente ansiosos e depressivos) e em promover a sensação de bem-estar (que está ligada a um sentido positivo sobre a vida). No que tange às abordagens teóricas, as pesquisas têm mostrado evidências de que todas as principais escolas psicoterapêuticas (psicodinâmica, comportamental, cognitivo-comportamental, humanistas experienciais e existenciais) são eficazes e alcançam resultados semelhantes (Sousa, 2017; Cuijpers et al., 2021).

Porém, ao mesmo tempo que a psicoterapia é eficaz, ela traz também alguns problemas importantes que devem ser considerados na prática clínica. As pesquisas apontam que existe uma alta taxa de desistências no processo psicoterapêutico (dropout), na ordem de 20%. Além disso, 5 a 10% das pessoas que passam por psicoterapia apresentam uma piora em relação ao seu quadro, e 30 a 40% não experimentam mudanças significativas no decorrer do processo psicoterapêutico. Ressalta-se que os anos de experiência do psicoterapeuta não são preditores de um bom resultado psicoterapêutico (Norcross, 2011; Sousa, 2017; Eels, 2015).

As pesquisas apontam que existe uma alta taxa de desistências no processo psicoterapêutico (dropout), na ordem de 20%. Além disso, 5 a 10% das pessoas que passam por psicoterapia apresentam uma piora em relação ao seu quadro, e 30 a 40% não experimentam mudanças significativas no decorrer do processo psicoterapêutico.

Assim, uma das grandes questões da investigação científica em psicoterapia na atualidade é o que faz um processo psicoterapêutico ser eficaz, já que as pesquisas têm mostrado que, apesar da abordagem ser fundamental para o trabalho do psicoterapeuta, ela não é o principal componente que torna necessariamente a psicoterapia mais eficaz (Sousa, 2014). Ressalto mais uma vez que não quero dizer que o psicoterapeuta não deva ter uma abordagem teórica; é fundamental ter um modelo teórico para fundamentar sua prática. No entanto, existem uma série de competências interpessoais exigidas para o psicoterapeuta e de condições para a psicoterapia que fazem o resultado ser satisfatório para o cliente.

As investigações científicas em psicoterapia demonstram que o psicoterapeuta eficaz deve adaptar a psicoterapia aos seus clientes; cada pessoa tem uma psicoterapia singular e única. Intervenções manualizadas que generalizam um conjunto de técnicas sem levar em conta a singularidade de cada cliente não têm se mostrado eficazes (Sousa, 2017). Além disso, é necessário que o psicoterapeuta tenha um planejamento clínico baseado nos valores e no contexto cultural do cliente, fundamentando suas intervenções em conhecimentos psicológicos cientificamente e academicamente validados (Eels, 2015).

Dessa maneira, é necessário que o psicoterapeuta tenha conhecimentos sobre psicopatologia, epidemiologia, uma fundamentação teórica sólida em sua abordagem psicoterápica, aspectos históricos e sociais do mundo atual, psicologia social, desenvolvimento, trabalho, metodologia científica, etc. (Eels, 2015). É essencial que o psicoterapeuta esteja em constante atualização e conheça o que tem sido produzido cientificamente na psicologia e em outras áreas do conhecimento, bem como nas próprias investigações científicas da psicoterapia em si.

Portanto, o psicoterapeuta deve ter uma formação continuada e manter um olhar autocrítico em relação à sua prática. É necessário também supervisionar a prática clínica e realizar trabalho psicoterapêutico pessoal para sustentar melhor sua prática clínica. Ressalta-se que a própria supervisão deve ser pensada de maneira a ajudar os psicoterapeutas a desenvolver aspectos teóricos e habilidades interpessoais específicas na relação terapêutica. Nesse sentido, tem sido estudado e desenvolvido o modelo de prática deliberada, que tem se mostrado uma metodologia eficaz na formação e supervisão de psicoterapeutas (Souza, 2017). Outro ponto importante é que, além do sólido conhecimento teórico e metodológico, o psicoterapeuta deve possuir uma série de habilidades interpessoais, como congruência, empatia, comunicação e expressividade emocional. Um psicoterapeuta eficaz deve ser capaz de manter uma boa aliança terapêutica, que é o processo colaborativo entre ele e o cliente no qual todo o processo psicoterápico acontece, bem como de saber lidar com as rupturas ocorridas nessa relação. Cada vez mais, as pesquisas têm enfatizado que a aliança terapêutica é fundamental em um processo psicoterápico eficaz. Essas são algumas das condições necessárias que as investigações atuais em psicoterapia têm apontado para promover processos psicoterapêuticos eficazes e que possam ajudar seus clientes a ter uma vida que faça mais sentido para si. Você está afinado com o que é necessário para promover psicoterapias eficazes?

Klessyo Freire
Klessyo Freire
Klessyo Freire é psicólogo (CRP 03/10639), psicoterapeuta (na modalidade online e presencial na cidade de São Paulo), supervisor clínico, orientador de carreira, pesquisador e professor. Tem formação em clínica fenomenológica-existencial pelo Instituto Fenomenológico Existencial do Rio de Janeiro (IFEN) e em orientação e transição de carreira pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC- SP). É também mestre em Educação e Doutor em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). No plano profisisonal, também tem coordenado serviços de atendimento psicológico breve e atuado como gestor e empreendedor nas áreas de formação continuada e saúde mental. Foi professor de cursos de graduação e pós-graduação e é sócio-fundador, professor e supervisor da Rede Existências, Escola de Formação Continuada em Psicologia. Contato: e-mail [email protected], telefone e whatsapp (11) 91182- 0481, instagram @psi.klessyofreire e site www.drklessyofreire.com.br.

Referências

Cuijpers, P; Et al. (2021). Psychotherapies for depression: a network meta-analysis covering efficacy, acceptability and long-term outcomes of all main treatment types. World Psychiatry 20:2 – June 2021.

Eells, T.D. (2015). Psychoterapy case formulation. Washington- DC: American Psychological Association, 2015

Norcross, J.C (Ed). (2011).  Psychoterapy relationships that work. Evidence- based responsiveness. New York NY: Oxford University Press.

Sousa, D. (2017).Existential psychotherapy: A Genetic- Phenomenological approach. New York- NY: Palgrave Macmilan.

Wampold.B.E. (2019). The basics psychoterapy: an introduction to theory and practice. Washington- DC: American Psychological Association.

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